quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Copenhaga dia 2

Começo o dia com música (Alanis Morissette) e o pequeno almoço que os anfitriões, sempre atenciosos e afáveis, ofereceram. Saio de casa com eles, tendo o Lars-Emils ido estudar para a faculdade, na sua city bike, e a Emilie ido comigo para o metro, seguindo viagem para o seu trabalho.

Bicicletas

As bicicletas são sem dúvida o mais popular meio de transporte na Dinamarca, criando verdadeiramente horas de ponta de trânsito. Aproveitam o facto da falta de relevo e suave inclinação dos terrenos, pedalando furiosa e ordeiramente por toda a cidade, nas ciclovias apenas, desmontando das bicicletas sempre que circulam no passeio. Têm semáforos próprios, sinalizam mudança de direcção, e são multados por não possuírem luzes de presença à frente e atrás da bicicleta (verdade, assisti a uma operação stop, com polícias a mandar parar os prevaricadores ciclistas sem luzes). Soube nessa noite que o Lars-Emils já tinha sido multado por essa infracção, tendo tido um desconto de estudante, de metade do valor da multa =) óbvio que comprou logo luzes, tendo aí a conversa seguido o rumo dos novos faróis dos velocípedes alimentados por inducção electromagnética (como os da minha bicicleta nova), bem mais confortáveis que os antigos dínamos, dizem eles. Quase não se vêm BTT's, o estilo preferido é a city bike, que em Portugal passaria seguramente por bicicleta de senhora, ou pasteleira.

Cristiania

Comecei o dia em Cristiania, uma zona da cidade outrora hippie, habitada pelos ditos cujos, onde se sente uma atmosfera de boa onda, anarquismo, pintalgada por todo o lado com proibição do uso de máquinas fotográficas, com graffitis de qualidade e bancas com substâncias de índole coerente com a zona. De vez em quando surge malta a proteger-se dos 0ºC ao redor de barris com fogueiras. Estes habitantes ocuparam nos anos setenta umas casernas militares abandonadas, tendo na altura a ocupação sido considerada como "experiência social", havendo até um contestado desconto nos impostos aos habitantes da zona, que vão desde o mais puro junkie, à família jovem que lá vive e usufrui do infantário que lá existe! Vi um comboio de crianças encasacadas, a circular pela zona com as educadoras, tranquilamente. Fala-se em interesse imobiliário na zona, que é fronteira a canais gélidos muito bonitos, sendo as incursões policiais por lá cada vez mais frequentes.

Reconhecimento

Prossegui para o Museu Nacional, gratuito, muito interessante, e fui à embaixada de Portugal, onde me foi recusado o voto antecipado, pois tinha-me esquecido de levar documento que comprovasse o impedimento do meu voto em Portugal.. Não fosse eu ter ideia de votar duas vezes.. É um controlo que não compreendo, uma vez que o voto é enviado para a minha freguesia de voto, onde podem fazer o controlo de que não voto duas vezes. Nem ter o cartão de cidadão me valeu. Fiquei chateado por ter perdido tempo de luz, que por cá escasseia, para visitar mais a cidade.

Vi a Pequena Sereia e mais uns quantos monumentos, e deambulei até depois de ser noite.

Serão

Acompanhei os anfitriões e os amigos na sessão semanal de visionamento de uns episódios de Twin Peaks, uma série de 1991 do David Lynch, engraçada, merece visionamento. Falámos até tarde, sobre mitologia, jornalismo, filmes, livros, economia, países, doenças, relembrei que as Valquírias são as enviadas de Odin para resgatar os guerreiros mortos em batalha, conduzindo-os ao Vahllala (o paraíso, que consiste em pancada da grossa uns com os outros, mas sem sequelas, banquetes, festões, bebedeiras e mulheres, todos os dias.. ah, exclusivo aos mortos em combate, todos os outros são condenados ao Vazio). Descobri que os estudantes universitários têm um ordenado, só por estudarem (cerca da 600-800eu por mês), não pagam propinas, têm um ano sabático após terminarem o ensino secundário, ingressando no ensino superior apenas aos 19 anos. Se também trabalharem, pagam imposto de 40%, por muito pouco que ganhem. Mas dão-se por felizes, pois já houveram tempos em que pagavam 60% (e antes do Reagan, nos EUA, houveram taxas de 79%.. os meus anfitriões e amigos são estudantes de línguas, história e filosofia).

Disseram-me que a casa quente e confortável onde me receberam tinha sido construída nos anos 30, encontrando-se melhor isolada que muitas casas portuguesas construídas ontem. É incrível como as casas conseguem ser simples e acolhedoras. Não era um edifício deslumbrante, não, exterior de tijolo, escadaria simples sem elevador e três andares que escalei com a minha bagagem para três meses. Gostei da casa, bom ambiente e momentos proporcionados por um jovem casal de estudantes, que me acolheu como amigo, e me falou do seu projecto próximo de passar seis meses na Índia, já no final de Janeiro!! Sem dúvida, outro modo de encarar a vida, no país com o PIB mais elevado da Europa, tendo eu já percebido o porquê de terem o maior índice de felicidade do mundo =)

Voltei a surfar, uma última vez, no mesmo couch (sofá).

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