domingo, 30 de janeiro de 2011

É formidável...

...como ainda não me cansei de olhar para a neve! A falta de horas de sol é compensada pelo manto branco que reflecte a luz por toda a cidade, tornando os dias menos cinzentos.

Todas as manhãs acordo para ir para a Unidade Pediátrica HC Andersen, do Hospital Universitário de Odense. Com instalações novas (2008), é um sítio deveras agradável para trabalhar, onde todos os dias há animação para as crianças (e para mim), com músicos, teatro de marionetas, cama elástica (ihuhu), visitas escolares.. Há 3 recreios ao ar livre, sendo um deles de isolamento, para crianças imunodeficientes ou imunossuprimidas. Todos os quartos têm leitor de DVD, écran LCD e uma Wii. No outro dia, no gabinete de consulta de cardiologia de ambulatório, vi o Shrek 3 vezes.. em dinamarquês!! Tudo enquanto se examina a criança.

Os médicos chegam de manhã de bicicleta, tiram os casacos e vestem por cima da tshirt a bata branca lavada que o hospital fornece todos os dias, e que volta para o cesto da roupa suja no final do turno, ou quando medalhada por sangue, vómito, expectorações, café ou afins. Há duas reuniões de serviço diárias, passando-se o turno da noite às 8h, fazendo-se o ponto da situação e distribuição de tarefas, tudo enquanto se beberica o café (de máquina do serviço, à discrição), nas canecas do serviço. Ao meio dia tem lugar outra reunião, com ponto da situação enquanto se consola a fome com a comida trazida de casa pelos médicos, com rápida transferência de alimento do tupperware para o estômago dos clínicos (muita cenoura comem eles, à Bugs Bunny, como se fosse batata frita). E prossegue-se com o trabalho até ao final da agenda. Fiquei surpreendido com as consultas de cabeceira, em que o médico responsável pelo doente consulta e fala com o mesmo durante 20 minutos, estando a respectiva enfermeira responsável presente, intervindo de vez em quando.

Depois da consulta, o médico faz o registo clínico no computador, mas não escreve! Dita o registo para um microfone USB, sendo os ditados transcritos (desgravados) por uma equipa de secretárias durante a noite. Espectacular, que poupança de tempo!

Já reparei que os dinamarqueses nunca aparentam ter pressa, levam o seu tempo a realizar placidamente as tarefas. Talvez sejam os Alentejanos da Escandinávia! Tremendamente eficazes, têm cá um PIB!

Odense é a 3ª maior cidade da Dinamarca (depois de Copenhaga e Aarhus, que tambem têm Faculdades de Medicina), com uma população superior a 1 milhão de habitantes. Ainda não vi prédios com altura superior a 6 andares (o meu tem 3), havendo um cuidado notório com o ordenamento da construção na cidade, sempre em notável harmonia com a natureza. Sempre que sigo a ciclovia junto ao curso de água que passa nas traseiras da minha casa, cruzo-me com malta a fazer o seu jogging, com temperaturas abaixo de zero, de dia e de noite (17h é noite), não temendo a neve nem o ar gelado a entrar pelos pulmões. Famílias passeiam a pé ou de bicicleta, atirando comida aos patos, muito pouco tímidos, que vêm para terra firme grasnar pelo seu pedaço de pão, deixando as suas pegadas desengonçadas na neve. Patos, gaivotas, outras aves aquáticas (ah, um arrozinho..), e cisnes!! Fiquei embasbacado a olhar, da primeira vez que vi um casal de cisnes majestosamente a deslizar no canal. São mesmo elegantes os bichos!

A universidade é espectacular, toda vidrada, luminosa, com um corredor principal enorme onde passam carros eléctricos, onde se cruzam estudantes de todas as áreas, desde a física cheia de fórmulas alquimisticamente misteriosas, até às humanidades com os seus estudos de línguas, passando pelas economias e biologias, tudo a conviver sob o mesmo tecto. A biblioteca é colossal, com livre acesso a bases de dados muito completas. Os estudantes têm também acesso gratuito à piscina (dentro da faculdade), bem como a fotocopiadoras e papel self service nos corredores (250 cópias gratuitas por semestre).

As salas de aula são impecáveis, onde usam o clássico giz e quadro negro, com o router wirelless a piscar numa parede, sendo a indumentária por toda a universidade a simpática tshirt, que o conforto térmico da universidade permite. Quase que o encoraja, tal é a dimensão da amplitude térmica ao vir do exterior. As casas de banho são mistas, sendo todos os cubículos espaçosos e equipados com lavatório próprio (pode servir de escritório).

Situada no meio de um bosque, construída nos anos 60, ficamos com a sensação de que foi desenhada ontem. Brilha e cheira a nova!

Dá vontade de passar lá o tempo todo. A estudar!

ps- ah, o café é péssimo. Estilo cházinho.
pps- este texto ainda é rascunho, estou apenas a ceder a uns pedidos mais ansiosos =p

sábado, 15 de janeiro de 2011

muita pedalada

Demonstrei aos dinamarqueses que mesmo numa bicicleta de senhora, pequena, roxa e ferrugenta, um português consegue manter, placidamente, a virilidade e o estilo. Ficam surpresos pelo lampejo vermelho que os ultrapassa a pedalar furiosamente, exclamam "por Odin" na língua deles, e martelam as campainhas de alegria.

Não foi fácil manobrar com ela, de início, mas consegui domá-la. Não estava habituado ao mecanismo de travagem da roda traseira ser feito por retropedalada, nem aos pneus de estrada quase vazios (nem à corrente encravada, nem ao desviador de velocidades desobediente).

Por cá são raríssimos os pneus com relevo cardado, como os das nossas bicicletas de montanha. Os pneus de estrada são equipamento padrão, estreitos e de diâmetro grande, sendo alguns reforçados com borracha (o autêntico run flat tire). As suspensões também não existem pois "temos óptimas ciclovias"... uma ova, os meus braços e cintura escapular têm saudades da minha Bicicleta Cândida, com a sua meiga suspensão à frente.

O objectivo é mesmo poupar no peso e no preço.

Parece que é frequente que cada dinamarquês tenha uma city bike para o quotidiano, e uma para lazer, de montanha ou de estrada.

Não obstante o meu amor ao cor-de-rosa e às pasteleiras ferrugentas, adquiri uma mountain bike a um estudante erasmus de engenharia mecânica, que está de partida. Parece que fiz um óptimo negócio. É de alumínio, negra, com faróis de presença automáticos (é só começar a pedalar, o tal sistema electromagnético).

Bem, o vizinho de cima está a distribuir pelo condomínio uns decíbeis de hip hop americano. Acho que lhe vou gritar o fado aos ouvidos.

ps- as scooters podem andar nas ciclovias também.
pps- existem semáforos com compressores para encher os pneus das bicicletas.
ppps- as binas.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

primeiros tiros - first shots


cá vão as primeiras fotos

andei a poupar nos dedos, estava tanto frio que tirar as luvas para fotografar era um acto de coragem =) há umas giras.

Os interessados em espreitá-las só têm que clicar no endereço abaixo:


ps- há fotos exclusivas que logo mostrarei
pps- e outras péssimas que não mostro a ninguém 8)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Copenhaga dia 2

Começo o dia com música (Alanis Morissette) e o pequeno almoço que os anfitriões, sempre atenciosos e afáveis, ofereceram. Saio de casa com eles, tendo o Lars-Emils ido estudar para a faculdade, na sua city bike, e a Emilie ido comigo para o metro, seguindo viagem para o seu trabalho.

Bicicletas

As bicicletas são sem dúvida o mais popular meio de transporte na Dinamarca, criando verdadeiramente horas de ponta de trânsito. Aproveitam o facto da falta de relevo e suave inclinação dos terrenos, pedalando furiosa e ordeiramente por toda a cidade, nas ciclovias apenas, desmontando das bicicletas sempre que circulam no passeio. Têm semáforos próprios, sinalizam mudança de direcção, e são multados por não possuírem luzes de presença à frente e atrás da bicicleta (verdade, assisti a uma operação stop, com polícias a mandar parar os prevaricadores ciclistas sem luzes). Soube nessa noite que o Lars-Emils já tinha sido multado por essa infracção, tendo tido um desconto de estudante, de metade do valor da multa =) óbvio que comprou logo luzes, tendo aí a conversa seguido o rumo dos novos faróis dos velocípedes alimentados por inducção electromagnética (como os da minha bicicleta nova), bem mais confortáveis que os antigos dínamos, dizem eles. Quase não se vêm BTT's, o estilo preferido é a city bike, que em Portugal passaria seguramente por bicicleta de senhora, ou pasteleira.

Cristiania

Comecei o dia em Cristiania, uma zona da cidade outrora hippie, habitada pelos ditos cujos, onde se sente uma atmosfera de boa onda, anarquismo, pintalgada por todo o lado com proibição do uso de máquinas fotográficas, com graffitis de qualidade e bancas com substâncias de índole coerente com a zona. De vez em quando surge malta a proteger-se dos 0ºC ao redor de barris com fogueiras. Estes habitantes ocuparam nos anos setenta umas casernas militares abandonadas, tendo na altura a ocupação sido considerada como "experiência social", havendo até um contestado desconto nos impostos aos habitantes da zona, que vão desde o mais puro junkie, à família jovem que lá vive e usufrui do infantário que lá existe! Vi um comboio de crianças encasacadas, a circular pela zona com as educadoras, tranquilamente. Fala-se em interesse imobiliário na zona, que é fronteira a canais gélidos muito bonitos, sendo as incursões policiais por lá cada vez mais frequentes.

Reconhecimento

Prossegui para o Museu Nacional, gratuito, muito interessante, e fui à embaixada de Portugal, onde me foi recusado o voto antecipado, pois tinha-me esquecido de levar documento que comprovasse o impedimento do meu voto em Portugal.. Não fosse eu ter ideia de votar duas vezes.. É um controlo que não compreendo, uma vez que o voto é enviado para a minha freguesia de voto, onde podem fazer o controlo de que não voto duas vezes. Nem ter o cartão de cidadão me valeu. Fiquei chateado por ter perdido tempo de luz, que por cá escasseia, para visitar mais a cidade.

Vi a Pequena Sereia e mais uns quantos monumentos, e deambulei até depois de ser noite.

Serão

Acompanhei os anfitriões e os amigos na sessão semanal de visionamento de uns episódios de Twin Peaks, uma série de 1991 do David Lynch, engraçada, merece visionamento. Falámos até tarde, sobre mitologia, jornalismo, filmes, livros, economia, países, doenças, relembrei que as Valquírias são as enviadas de Odin para resgatar os guerreiros mortos em batalha, conduzindo-os ao Vahllala (o paraíso, que consiste em pancada da grossa uns com os outros, mas sem sequelas, banquetes, festões, bebedeiras e mulheres, todos os dias.. ah, exclusivo aos mortos em combate, todos os outros são condenados ao Vazio). Descobri que os estudantes universitários têm um ordenado, só por estudarem (cerca da 600-800eu por mês), não pagam propinas, têm um ano sabático após terminarem o ensino secundário, ingressando no ensino superior apenas aos 19 anos. Se também trabalharem, pagam imposto de 40%, por muito pouco que ganhem. Mas dão-se por felizes, pois já houveram tempos em que pagavam 60% (e antes do Reagan, nos EUA, houveram taxas de 79%.. os meus anfitriões e amigos são estudantes de línguas, história e filosofia).

Disseram-me que a casa quente e confortável onde me receberam tinha sido construída nos anos 30, encontrando-se melhor isolada que muitas casas portuguesas construídas ontem. É incrível como as casas conseguem ser simples e acolhedoras. Não era um edifício deslumbrante, não, exterior de tijolo, escadaria simples sem elevador e três andares que escalei com a minha bagagem para três meses. Gostei da casa, bom ambiente e momentos proporcionados por um jovem casal de estudantes, que me acolheu como amigo, e me falou do seu projecto próximo de passar seis meses na Índia, já no final de Janeiro!! Sem dúvida, outro modo de encarar a vida, no país com o PIB mais elevado da Europa, tendo eu já percebido o porquê de terem o maior índice de felicidade do mundo =)

Voltei a surfar, uma última vez, no mesmo couch (sofá).

Copenhaga dia 1 - já me arrependi

..de ter feito a barba!!

Aeroporto

copenhaga surgiu debaixo do trem d aterragem (felizmente), numa aterragem tranquila c travagem no gelo, feita decerto pela instrumentação ILS, após uma aproximação em que a aeronave da TAP esteve aninhada nas nuvens desde os 2000m aos 200m de altitude. Logo à saída da manga do avião havia polícia com cães a farejar. Os portugueses sempre comercializaram muitas especiarias... Felizmente a bagagem chegou intacta, não me queria habilitar a perder as minhas meias da sorte! Encaminhei-me então para o táxi, tendo dado a morada onde iria pernoitar nos dias seguintes.

Casa

Chegado à morada, após percorrer uma estrada marginal, fui recebido por um jovem de dois modestos metros de altitude e gadelha comprida com rabodecavalo. Tive que levantar o mento (queixo) para o poder ver bem! Olhos azuis, o cliché desta zona, claro, tal como os da namorada dele que conheci de noite, que ainda se encontrava a trabalhar. Deu-me as chaves de casa, e prontamente me lancei à cidade.

Metro

A caminho do metro, primeiras surpresas: há dejectos de canídeo nos passeios nevados!! E afinal os copenhaguenses também atravessam quando o sinal está vermelho. Que traquinas, parecem portugueses.

Aguardo pelo metro, que pelos vistos é mágico, não tem condutor, e passa com frequência de dois minutos. É tão quentinho... Mais: as estações apenas têm saída para uma rua (não é a macacada de saídas e galerias do metro do saldanha, das quais usufruo e gosto =), sempre com ligação directa de elevador e de escadas rolantes duplas (duas ascendentes e duas descendentes), havendo estações em que as plataformas são do estilo aquário, com portas automáticas alinhadas com as portas das carruagens, impedindo que os putos atirem as bolas para os carris do metro, bem como impedindo que haja variação de temperatura entre as carruagens e as estações de metro, todas climatizadas (quem nunca ficou c os pavilhões auriculares gelados na estação da cidade universitária de lisboa (linha amarela)?? Deve ser um acordo com a comissão de praxes de alguma mui nobre academia lisboeta, decerto).

Curiosamente, os bilhetes são tipo módulo, nada electrónicos, com maquinetas que os obliteram, como os BUCs da Carris, lembram-se? Todavia, podem ser usados tanto no metro como nos autocarros, que também são frequentes.

Cidade

Inicio a descoberta da cidade às quatro e tal da tarde, que já é noite cerrada. A zona ainda tem algum movimento, com pessoas que aparentam ir fazer as últimas compras antes de se refugiarem em casa, sendo a rua principal dominada por lojas de roupa, desde a Ibérica Zara até algumas lojas de estilistas escandinavos, suponho eu (têm aqueles caracteres com bolinhas engraçados), estando pejada também de irish e english pubs.

Existem muitos músicos de rua, com guitarras, acordeão, violinos, todos eles amplificados. Engraçado, o músico do acordeão iniciou a música do "the Godfather" quando eu passei.. espero que seja bom presságio. Continuo a caminhada, vou tirando algumas fotos de quando em vez, e chego ao posto de turismo. Entro e reparo que está fechado, tendo aproveitado para aquecer com um chocolate quente no café que permanece aberto no mesmo espaço do posto de turismo, pensando que não devia ter feito a barba.

Alguma penugem na face daria jeito, para amortecer um bocadinho que fosse o vento gelado que me congela os lóbulos das orelhas (que estão fora do gorro) e as narinas, que já nem detectam o sensual pingo que se arrisca a fundar uma estalactite de exsudado seroso. Ao menos o mucoso não pinga!! Quando mais mucosa a ranhoca, mais viscosa. E proteica! Só para que se saiba (se for colorida, pode ser que tenha umas bactérias aprisionadas - será que agora se escreve batérias?..). Adiante..

Repouso

Regresso ao lar (aliás, à casa do Lars-Emils e da Emilie, ilustres couchsurfers), tendo devorado alguma junk food pelo caminho, praise the lord (menu com 2 cheeseburger e cola, que nunca peçoo em Portugal, mas agora...todas as calorias são poucas). Ao chegar a casa, os anfitriões recebem-me com um chá delicioso. Conversámos durante umas horas, tendo sido presenteado com marcação de um roteiro no mapa que usaria no dia seguinte. Disseram-me que estava cheio de sorte, uma vez que este inverno foi dos mais rigorosos das últimas décadas, tendo as autoridades temido pela deplecção das reservas de sal utilizado para impedir a formação de gelo nas estradas, nas ciclovias e nos passeios, sempre impecáveis e transitáveis. A temperatura tinha acabado de subir, não nevava há alguns dias, muito embora o sol não mimasse a cidade com os seus beijinhos.

Enfim, atirei-me ao couch e fiz um ganda surf até à manhã seguinte, pensando antes de adormecer: ontem Faro, hoje Lisboa e Copenhaga..

ps- amanhã o Mundo x) uahahah
pps- Obrigado, a quem de direito 8)

sábado, 8 de janeiro de 2011

starway to heaven


Viatura ancorada em segurança!

Optei pela voluptuosa não portajada nacional, menos monótona.

Usei e abusei dos faróis de estrada, os máximos, qual gatilho de protões dos X-Wing.. Não houve orc que escapasse, a Força é forte em mim.

Prazenteiro quanto baste o troço de estrada a partir da Mimosa, a terra do leite. Aliás, acho que os Mimosenses deviam expandir o negócio e promover o Café Mimosa, graças ao qual ainda tenho a pestana arregalada. É um produto de qualidade, que não defrauda expectativas.

Despedi-me do meu quarto dos Soeiros, do Aqueduto, da Ponte.

Algarve, Lisboa, Alentejo, sensação de pertença ao longo de toda a estrada, na própria estrada, ao volante da canoa rumo ao Shire.

Tom lamechas.. Vou mas é despachar um pãozinho de lembas, mandar um mail para Rivendell e esperar que Tatooine se mantenha em órbita. Isto nos dias que correm..

ps- queria fechar a porta à Nostalgia, mas a impertinente entala o pé à Martim Moniz e tenta entrar.. consegue, a malvada.
pps- é nestas alturas que se perspectivam seres, situações e factos.. Como o dos buracos da estrada de Portugal. Contemplam-se e desculpam-se: não é defeito, é feitio. E vamos sentir a sua falta.
ppps- os amortecedores do bólide não partilham da opinião do pps.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011